Poetry
A Fera
Braço a braço lutamos desde sempre.
Mal o vestido de noiva despi
e agudas garras sobre nós lançou.
Por uma década de pura glória
exibi meu triunfo pela casa:
o varal embandeirado de fraldas.
De teimosa, porém, não desistiu.
Recusou-se a enxergar o olho da rua
que, fula apontei vassoura em punho.
Fez pacto com o tempo e se acampou
o parceiro paciente dizendo-lhe
quem por último ri, ri bem melhor.
Mobilizou no meio tempo dúzias
de terríveis malandras artimanhas.
Armadilhas armou, fez estratégias
trocou de nome, cara, pele e trajes
usou máscaras bárbaras e raras
e deitou-se entre nós no vão da cama
por breves e por longas temporadas
até que se apossou de vez do amado
e com a bocarra de sangue manchada
riu e gozou com a minha solidão.